domingo, 21 de novembro de 2010

Apresentação: um espelho surpreendente



Um homem se questionava sobre o espírito presente não na natureza, mas no fundo do espelho diante do qual se reencontrava cada manhã. Ele perguntou-lhe, fixando-o profundamente: "Será que um dia você poderá ver como eu te vejo, ver como vê um ser humano "? O espelho começou a refletir longamente, a analisar quais seriam suas maneiras próprias de ver e olhar. Enfim, ele imprimiu sua resposta sobre o fundo de estanho, como todos os espelhos fazem. O homem se extasiou quando descobriu essas palavras, impecavelmente traçadas sobre a superfície polida: "Isto-me-lembra-uma-história". Aturdido ainda, o homem lhe respondeu: "O que é uma história?". O espelho lhe respondeu: "São pequenos nós, maneiras de ser atados e reatados, modos de ser reunidos, como você e eu, estamos, neste momento". Acrescentou: "Minha história não é apenas a sua, a de seu pai e de sua mãe, a história do afeto que você foi - antes disso - a história do nascimento da animalidade e a história da emergência da vida; é também a história do nascimento da sombra e da luz, a história de teus olhos que aprenderam a ver e a não ver, a história das representações humanas, a história da perspectiva, a história das imagens que fabrico e das imagens que você concebe para tentar se entender. Todas essas histórias são de nós, imediatamente legíveis". O espelho, então, estremeceu e, em seguida, esfacelou-se no chão. Perante o homem, havia apenas uma fotografia.


BATESON, Gregory. Mind and Nature. A Necessary Unity. New York: Dutton, 1979, p. 21-2 in:  SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998, p. 11.
 A fotografia... pois, é esta 'coisa' inexplicável! Já tem mais de 160 anos, uma longa, longa existência... milhões de linhas escritas sobre ela, uma história tecnológica evolutiva capaz de tirar o folêgo de qualquer um e neste sentido tambem inexplicavel quanto a capacidade de reiventar-se.. .quando parece morrer, renasce, eterna Fênix, porêm sempre nova e capaz de cooptar as sucesivas gerações.
E é história, memória, ficção, realidade, sonho, mentira, verdade, truque, enganação. Elástica, sofre de multipla personalidade. É de borracha, se adapta e se presta a inúmeros fins. Por tudo isto, dificil não amá-la e odiá-la, tudo ao mesmo tempo e misturado. Mas, quanto mais passa o tempo mais certeza de uma coisa temos: não podemos nem queremos viver sem ela, nem com ela, e queremos decífrá-la, embora esta seja uma missão impossível (tal como comprovam os milhoes de linhas escritas sobre e por ela, e todas as fotografia já feitas também!).
2010!!! E AQUI ESTAMOS NÓS, no décimo oitavo ano de aulas de fotografia na Universidade Federal do Rio Grande, desfrutando do privilégio de estar ao meio deste fenômeno e de desfrutar dos efeitos deste fenômeno sobre mais uma geração de alunos do Curso de Artes visuais - Licenciatura e Bacharelado da Universidade Federal do Rio Grande / RS. Gracias a la vida por me haber dado regalado eso.. pois!
Aqui, neste reduto, a fotografia é apenas um exercício de reconhecimento (já diz o nome da disciplina que dela trata: Introdução à fotografia), mas isto não torna a experiência menor, antes pelo contrário, é uma imersão profunda, vivida com 'muchas ganas'. Fazemos mais do que previsto no programa e enm é preciso estimular a galera, é, é o fenômeno da fotografia agindo a revelia. 
Neste blog, a proposta é reunir, em forma de portfólio coletivo, um pouco do que cada um fez durante este ano nesta disciplina que tenta dar conta da história, dos fundamentos artísticos, técnicos e conceituais deste meio e processo. Vamos ver o que conseguimos fazer.
Quanto a minha participação, para além deste breve texto de apresentação será a de  estar atrás dos bastidores e de postar as fotos dos bastidores...
Teresa Lenzi